Flávio Luís Ferrarini - In Memoriam

Flávio Luís Ferrarini - In Memoriam

Flávio Ferrarini

In memorian

Natural de Nova Pádua, Flávio Luís Ferrarini mudou ainda adolescente para Flores da Cunha (RS), onde fixou residência. Era publicitário e colunista dos jornais O Florense – desde seu início, em 1988 – e Semanário, de Bento Gonçalves. Além disso, Ferrarini, colaborava com vários sites literários.

Entre seus reconhecimentos, está o empréstimo de seu nome à Biblioteca Pública Municipal de Nova Pádua e ter sido escolhido Patrono da 30ª Feira do Livro de Flores da Cunha.

Suas obras mereceram artigos elogiosos, como o de José Paulo Paes, ensaísta, poeta e tradutor brasileiro. Ferrarini acumulou resenhas entusiastas em importantes publicações literárias do Brasil.

Flávio Luís Ferrarini publicou seu primeiro livro individual em 1985, abrindo uma série de dezessete obras, nos gêneros de contos, crônicas, poesia, poesia em prosa, novela e narrativas infanto-juvenis. O colunista morreu em um acidente de trânsito em 16 de junho de 2015. Suas crônicas permanecem no site como forma de homenagem póstuma.

 

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48 anos

Talvez eu não devesse estar revelando isso a você, mas estou a alguns dias de completar 48 anos de idade.

Talvez eu não devesse estar revelando isso a você, mas estou a alguns dias de completar 48 anos de idade. Completar 48 anos é estar quase com os dois pés na casa dos 50. Completar 48 anos é ter medo dos 50. Completar 48 anos é estar bem perto de fazer meio século de vida e sentir um frio secular subir pelas pernas e infiltrar-se em todos os poros do corpo. Completar 48 anos é sentir-se incapaz de conter a marcha irrefreável dos cabelos brancos. Completar 48 anos é ficar arrepiado com a possibilidade de ganhar pantufas, meias de lã, um pijama listrado ou um tratamento de canal como presente de aniversário. Completar 48 anos é começar a ser chamado pelo respeitoso tratamento de Senhor. Completar 48 anos é ter certeza de que a tecnologia não veio para trazer mais paz e felicidade, mas produtividade e competitividade. Completar 48 anos é perder a capacidade de espantar-se e envergonhar-se com as safadezas cometidas por políticos corruptos que saqueiam os cofres públicos e os bolsos dos cidadãos. Completar 48 anos é escutar Beeges, Pepino di Capri e Roberto Carlos no CD do carro. Completar 48 anos é receber o carimbo de velho pela galera dos 38. Completar 48 anos é ser do tempo da calça boca de sino, camisa florida, balas de caramelo e gomas de mascar embrulhadas com papel de figurinhas. Completar 48 anos é ficar com um pé atrás nos anúncios classificados através dos quais as mulheres procuram “Homem de 50 para compromisso sério”. Completar 48 anos é desistir de manter o pique de um avião numa academia com barras, bicicleta e pesos para dedicar-se a uma máquina de costura, por exemplo. Completar 48 anos é evitar de sacudir a cabeça com muita força para não dar adeus ao poucos fios de cabelos que ainda restam. Completar 48 anos é perceber, não sem uma dose de saudosismo, que o jato de urina está perdendo potência e não se consegue mais derreter blocos de gelo a dois ou mais metros de distância. Completar 48 anos é ter certeza de que se alguém diz que você é bonito, experiente, talentoso e divertido deve ser um puxa-saco ou está com segundas intenções. Completar 48 anos é derreter-se feito manteiga com o sorriso do primeiro netinho. Completar 48 anos é chegar a ficar com dor de barriga de tanto encolhê-la diante de uma garota com a roupa colada ao seu corpinho de 20 e poucos anos. Completar 48 anos orgulhar-se do diploma Honra ao Mérito de 30 anos de trabalho na mesma empresa. Completar 48 anos é se dar conta de que o tempo, de repente, está passando mais rápido do que a própria vida. Completar 48 anos é falar gírias mais velhas do que andar para frente: bicho, morô, brotinho... Completar 48 anos é não confessar que tem certa dificuldade com as redes sociais disponibilizados pelo mundo virtual. Completar 48 anos é, acima de tudo, aprender a levar a vida com uma boa e necessária dose de humor para rir feito um menino da própria idade.