"Vó, me dá a mão?"
Não sei se você sabe, mas nesse dia 26 de julho, comemora-se o Dia da Vovó
Não sei se você sabe, mas nesse dia 26 de julho, comemora-se o Dia da Vovó. As Vovós são homenageadas nessa data porque é o dia de Santa Ana, avó de Jesus Cristo. Diz a história que Ana e o marido Joaquim não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que o Senhor lhes enviasse uma criança. Ana teve uma menina quando já tinha idade avançada e a batizou de Maria.Essa crônica, portanto, é uma pequena homenagem às Vovós.
Já contei a você que quando estudei na escola Frei Caneca morei por um tempo na casa dos meus avós. E a casa dos avós é uma escola onde não há reprovação.
A casa da minha Vó Pierina ficava bem em frente a antiga Delegacia de Polícia. Sempre que o delegado prendia um baderneiro ou um bêbado com fama de violento e eu precisava passar em frente à cela do condenado para por-me no caminho do Escola, recorria a minha avó:
– Vó, me dá a mão até a esquina?
Vó Pierina pegava minha mão trêmula e descia comigo a rua de paralelepípedos até o ponto em que conseguia ir-me sozinho com o meu medo.
De vez em quando eu era acordado repentinamente no meio da noite, por uma insistente dor de barriga, chamava Vovó:
– Vó, me dá a mão?
Vó Pierina acariciava a dor com sua mão milagrosa e a dor sumia.
Nos fundos do terreno vicejava uma velha laranjeira. Eu promovia expedições diárias ao pé para aliviá-lo de uma ou duas laranjas. Quase sempre recorria aos préstimos de Vovó.
– Vó, me dá uma mão com essa laranja?
Vó Pierina tomava da unha do polegar e rapidamente começava o começo na casca dura e eu terminava de tirar-lhe a roupa.
Quando precisava fazer um trabalho de aula, não hesitava em pedir socorro à Vovó:
– Vó, me dá uma mão aqui com o desenho?
Desajeitadamente, Vovó fazia quatro traços que me serviam de referência para desenhar as pernas de um cavalo. De lá eu subia para a cabeça e seguia para os olhos e as orelhas.
Às vezes, eu decidia fazer um estilingue com tiras de câmara de ar de bicicleta. Pegava a tesoura guardada na máquina de costura e a colocava na palma da mão da Vovó.
– Vó, me dá uma mão com esse negócio?
Depois de Vovó começar o comecinho, eu terminava de cortar as tiras.
Vivia eu boa parte do tempo pegado na mão da Vó Pierina. Somente corria para um lugar seguro quando ela lançava mão do matamoscas.
Findo o ano escolar, precisei deixar a casa da Vovó e retornar para as casas dos meus pais no interior.
Os anos se passaram, porém, muitas vezes me pego dizendo:
– Vó, me dá a mão?
Acontece que cresci e nem sempre sei qual é o melhor caminho. Sei apenas que as estradas existem para andarmos em segurança e os caminhos estão aí para serem descobertos. Posso até falar algumas verdades, mas nem sempre sei expressá-las em atitudes.
Ainda hoje sinto a mão firme de Vovó me amparando e adivinho seus olhos doces e macios me protegendo...