Flores da Cunha, o general que deu nome ao município
No cargo de governador, despachou favoravelmente os estudos de um ramal férreo ligando o município a Caxias, construiu a estrada entre Nova Trento e Caxias, instalou o Laboratório Bromatológico, o telégrafo e criou o Grupo Escolar de Otávio Rocha
O menino José Antônio Flores da Cunha, filho de Miguel Luís da Cunha e Evarista Flores, nasceu na Estância São Miguel, região de Vista Alegre, Santana do Livramento (RS), em 5 de março de 1880. Descendente de açorianos, desde cedo deixou transparecer seus ímpetos de cultura guerreira. E, apesar de ter nascido em uma família abastada, a convivência com o povo simples das lides de campo despertou nele a admiração pela simplicidade e coragem que aquelas pessoas carregavam consigo.
Passou a infância na terra natal. Em 1895, no ano que teve fim a Revolta Federalista, ainda que as finanças da família estivessem de certo modo comprometidas, partiu para São Paulo onde realizou os estudos secundários. Seu pai podia prover as despesas com moradia e alimentação, para complementar a renda passou a trabalhar como repórter para um jornal local. Dois anos depois retornou ao Rio Grande, mas os ares políticos e culturais da grande metrópole o levaram de volta para cursar Direito. Nessa época, já evidenciando destacado espírito de liderança e mostrando-se um castilhista extremista, envolveu-se com a política e teve destacada atuação por meio das lutas estudantis. No último ano do curso mudou-se para o Rio de Janeiro. No findar de 1902 conquistou o título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Federal do Distrito Federal (RJ).
Iniciou a carreira como delegado de polícia de um bairro carioca. Apesar do êxito alcançado no cargo, um incidente grave com um jornalista fez com que pedisse demissão. Assim, em 1904 retornou à Santana do Livramento, onde advogou por alguns anos. Casou em 1905 com Irene Guerra, com quem teve os filhos Antônio, Luís, José Bonifácio, Marco Aurélio e Maria Guerra Flores da Cunha.
Em 1909 iniciou sua trajetória política sendo eleito Deputado Estadual pelo PRR. Anos depois foi intendente e subchefe de polícia de Uruguaiana e prefeito eleito em 1920. Sem conhecimento de táticas de guerra, respectivamente nas revoluções de 1923 e 1930, chefiou movimentos partidários a Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Dentre os feitos, condenou e baniu o hábito da degola, usada até então como forma de punição aos vencidos. Por sua lealdade, em 28 de novembro de 1930 foi nomeado ao cargo de Interventor Federal do Rio Grande do Sul, que ocupou até 13 de abril de 1935, quando foi eleito governador pela Assembléia Constituinte.
No cargo de governador, dentre inúmeros e importantes feitos, criou o Instituto do Vinho (levantamento de estoque, vistoria nas cantinas e diversificação do cultivo de videiras), construiu e reformou extensa malha ferroviária e rodovias, também criou diversas escolas em diferentes níveis de escolaridade. Para a antiga Nova Trento despachou favoravelmente os estudos de um ramal férreo ligando o município a Caxias, construiu a estrada entre Nova Trento e Caxias, instalou o Laboratório Bromatológico e o telégrafo e criou o Grupo Escolar de Otávio Rocha.
Entre os vieses políticos, o General José Antônio Flores da Cunha chegou a viver no exílio, mas retornou ao estado. Faleceu aos 79 anos, em 4 de novembro de 1959, sendo velado no Palácio Piratini e sepultado em sua terra natal, onde, por desejo, já havia expresso em um de seus pronunciamentos na Câmara dos Deputados, “quero morrer no Rio Grande, beijando as coxilhas”. Na ocasião, exercia o seu sexto mandato como Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul. Também chegou a ser eleito Deputado Federal pelo Ceará, e, no mandato anterior ao seu óbito presidiu a Câmara dos Deputados do Brasil.
Em Flores da Cunha foi homenageado com grande festividade e inauguração de quadro com a sua foto na antiga Cooperativa Trentina por ocasião da inscrição das cooperativas locais na Diretoria de Agricultura, Indústria e Comércio das Obras Públicas do Estado, com a denominação do município (Decreto Municipal nº 12, 21/12/1935), de uma escola de ensino noturno para adultos, de uma rua que liga os bairros Aparecida e União e com um monumento na Praça da Bandeira. Isso tudo, graças ao seu brilhantismo político, pois nunca pisou em solo florense.
Homenagem das cooperativas vitivinícolas locais ao Interventor Federal José Antônio Flores da Cunha, sede da Cooperativa Trentina, 28/10/1934.
Curiosidade
Contavam que o general não gostava de ser lembrado que o nome de Nova Trento havia sido trocado pelo seu, ainda em vida. E quando, eventualmente, algum prefeito de Flores da Cunha o procurava em seu gabinete, geralmente passava bastante tempo aguardando para ser atendido. A questão é que pouco ele conheceu a cidade, assim como poucos munícipes conhecem sua louvável história. Em contrapartida, houve ao menos três tentativas de retorno ao nome original do município, mas por diversas questões não teve sucesso. Passadas tantas décadas, o certo é que hoje o progresso do município muito bem representa a trajetória de vida do notável general.