Política

Entrevista: “O político antigo não tem mais chance”

Eleito em 2008 e reeleito em 2012, Itamar Bernardi avalia as duas gestões à frente da Prefeitura de Nova Pádua

Nova Pádua chegou à maioridade durante as administrações do prefeito Itamar Bernardi (PMDB), o Kiko. Com a maioridade veio o amadurecimento por meio do trabalho e de um planejamento seguido à risca. Segundo as palavras do ex-chefe do Poder Executivo, o resultado da sua dedicação à frente da prefeitura o fez passar o cargo no dia 1º de janeiro de 2017 com a real sensação do dever cumprido.

Nova Pádua tem 24 anos de emancipação política. Nos últimos oito anos, os moradores viram o posto de saúde ser ampliado; o asfaltamento de mais de 25 quilômetros de ruas e estradas; a construção do novo Centro Administrativo Padre Antônio Galiotto; e no dia 22 viu a inauguração da nova creche municipal, a Escola Infantil Paradiso dei Bambini – Professor Idalino Vailatti. “Sobre as pavimentações, é válido ressaltar que a média é superior a 3km por ano nas minhas administrações. Em oito anos da administração anterior foram feitos 9km; e em oito anos da outra administração foram feitos 4km. Eu fiz mais de 25km no interior, sem contar a sede do município e o loteamento Jorge Baggio”, orgulha-se o prefeito, que no dia 29 de dezembro inaugurou mais um trecho de 1km na capela São João Bosco.

O crescimento profissional, a ligação com a população e a preocupação com o ente público foram alguns dos pontos abordados por Kiko na entrevista concedida ao Jornal O Florense quando ainda ocupava seu gabinete, na prefeitura – ele avaliou seus dois mandados como prefeito. Confira os principais trechos da conversa.

 

O Florense: Que Itamar Bernardi assumiu a Prefeitura de Nova Pádua em 1º de janeiro de 2009?

Itamar Bernardi: (Pausa) Naquela época assumiu um Itamar que sabia da responsabilidade muito grande que teria pela frente. Sabedor do propósito e ciente que seriam quatro anos de muito trabalho e muita conversa para encaminhar algumas mudanças que eu achava que eram necessárias para poder fazer uma boa gestão. Lembro vários detalhes, mas posso dizer que o melhor período de um prefeito é entre a eleição e o dia 31 de dezembro (riso).

 

O Florense: Que Itamar Bernardi deixará a Prefeitura de Nova Pádua em 1º de janeiro de 2017, após oito anos de governo?

Bernardi: É o Itamar do dever cumprido. Salvo alguns percalços que tivemos ao longo dos oito anos, o dever foi cumprido. O que eu esperava ou almejava em 2009 para Nova Pádua, ao longo dos oito anos se concretizou. Hoje tenho uma visão muito ampla do que é administrar um município. Às vezes temos uma visão bem micro. Existem mais coisas boas do que ruins, até pelas conversas que tenho com a população. E nessas conversas é preciso medir palavra por palavra, para não usar uma expressão que seja contrária à expectativa da pessoa. Isso foi bem notório na minha administração, o cuidado com as palavras, o cuidado com meus atos, sempre pensando que sou o responsável pelo município. Saio com a real sensação do dever cumprido.

 

O Florense: Teve algum momento que o senhor considera crítico durante as duas administrações?

Bernardi: Veja bem, acho que duas coisas eu posso destacar, não que tenha abalado a administração, mas eu acho que poderia ser diferente. A primeira foi de ordem interna, quando saímos do prédio velho para este prédio novo, eu sabia disso, sabia que haveria uma resistência muito grande contra a forma como o trabalho é desenvolvido hoje, ou seja, departamentos sem salas, de uma maneira bem aberta e transparente. Naquela época eu não imaginava que haveria tanta resistência, tanto que a mudança do mobiliário se estendeu por vários dias, até o ponto que tive de determinar uma data deixarmos o prédio antigo. Não sei se perderam a comodidade de ficarem entre quatro paredes. Essa é minha visão de administração pública, a forma que deve ser feita, de forma aberta e transparente. A porta do meu gabinete, das oito horas de expediente, em sete horas ela está aberta. Na administração pública não tem que ter segredinhos. O que qualquer um possa falar qualquer um pode ouvir. O segundo ponto foi, digamos, econômico, pois compramos um terreno para a a vinda de uma vinícola, havia uma expectativa muito grande para que essa empresa viesse para o município, ajudaria na questão da arrecadação de impostos, mas principalmente geraria empregos para aquelas pessoas que não dependem da agricultura. Ficaria num local próximo e adequado para escoarmos nossa principal produção, que é a uva. E eu tinha me preparado todo para esse negócio vir para Nova Pádua, mas por motivos que não foram de nossa competência o negócio não se concretizou. Foi uma frustração a empresa ter desistido.

 

O Florense: E qual (ou quais) momento o senhor considera extremamente positivo durante as duas administrações?

Bernardi: Não só pela execução das obras, como este prédio (a obra principal de Nova Pádua), mas percebi que a administração estava no auge com a aceitação do público. E não só com o público daqui. Uma coisa é sair daqui e ouvir que Nova Pádua está funcionando. Ali eu percebi que estávamos num caminho adequado. A forma de administrar e governar, de gerir os recursos, acredito que tudo isso engrandeceu a administração. Ao longo dos anos houve esse amadurecimento.

 

O Florense: Que avaliação o senhor faz dos seus dois mandatos à frente do poder público de Nova Pádua?

Bernardi: As coisas do passado devem estar na nossa mente, mas Nova Pádua evoluiu nesses oito anos principalmente porque valorizou o presente. Jamais esquecendo o que foi feito pelos outros administradores, mas Nova Pádua evoluiu no sentido de elogiar o que está sendo feito hoje, uma marca que até um tempo atrás não existia. Ouvia-se muito que João ou Pedro tinha deixado de fazer, sempre o lado negativo. Hoje percebo que se fala menos do passado. Devemos aproveitar o que temos de bom, é importante. Houve evolução da administração e das pessoas.

 

O Florense: Na sua primeira entrevista como prefeito, em janeiro de 2009, o senhor disse que recebia uma prefeitura com o “caixa raspado”. Hoje, dia 19 de dezembro de 2016, como está a saúde financeira da administração?

Bernardi: E realmente o caixa estava raspado (risos). Em 2009 começamos praticamente sem recursos livres. Em 31 de dezembro de 2016 vou deixar mais de R$ 500 mil de recursos livres para serem usados no dia 1º de janeiro, já excluindo as verbas vinculadas. E algumas obras licitadas e em andamento. Tive também um passivo muito grande de férias e licenças-prêmio acumuladas. E quando eu digo muito era muito mesmo. Estou deixando essa questão administrativa também organizada. Esse foi um passivo que recebi em 2009 e que a próxima administração não terá. Isso deve ser citado. A situação da prefeitura é de disponibilidade financeira boa, sem riscos de não fechar contas, um município sadio. Folha enxuta, perto de 30% com cerca de 80 servidores, sendo 10 cargos de comissão (CCs) mais cinco secretários. Outra coisa que deve ser salientada é que as máquinas e veículos estão praticamente zerados. A frota leve e pesada é nova, adquirida nos últimos anos. A próxima administração está com o canal aberto para fazer um grande trabalho também.

 

O Florense: Numa entrevista ao Jornal O Florense em 2013 o senhor disse que pretendia fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro. O senhor conseguiu?

Bernardi: Sim, pela certeza das obras que foram executadas e pela forma que conduzi. A expectativa que eu tinha praticamente se confirmou. Consegui chegar com asfalto em todas as comunidades do interior, exceto Cerro Grande, mas um trecho foi asfaltado. A meta era chegar até as capelas, e em alguns casos até passamos das sedes, como é o caso de Santo Isidoro e Curuzu. Neste segundo semestre entregamos a ampliação do posto de saúde e a nova creche municipal.

 

O Florense: A construção da coligação histórica unindo PMDB, PSDB, PP e PRB se deu de que forma? O senhor teve participação efetiva nessa tratativa?

Bernardi: Sim, tive. Na verdade é uma tratativa longa, quando propus sentar para conversar com os representantes dos dois maiores partidos de Nova Pádua, PMDB e PP, sem desmerecer, claro, os demais partidos, e principalmente o PSDB, que vai assumir a administração em 2017, mas eram as duas siglas que tinham historicamente uma rusga muito grande de ideologias. No primeiro momento eu queria aproximar os dois partidos, a partir de 2014, para evitar que a próxima eleição fosse combativa, de enfrentamento, mas que fosse uma eleição com um objetivo comum, ou seja, o crescimento do município. Acredito que é melhor administrar um município com um grupo maior de pessoas, pois se surge um problema mais facilmente é encontrada a solução. A partir do momento que os partidos entenderam que poderia existir uma coligação para administrar Nova Pádua, aí começamos a avançar. Depois conseguimos unir os partidos ativos que almejavam algo maior na eleição. Foram várias reuniões e trocas de ideias até chegarmos nesse acordo. A eleição em si foi diferente, com outro clima. As primeiras administrações de Nova Pádua deixaram muitas marcas ruins, muitos confrontos sem necessidade, desavenças entre famílias, vizinhos e comunidades. Agora, depende dos administradores eleitos levar a ideia adiante. A coligação só vai se sustentar se a administração fizer um bom trabalho. Se a administração não fizer um bom trabalho é certo quer a coligação não resiste.

O Florense: Isso tudo deixou a população mais exigente...

Bernardi: Sim, deixou. Hoje algumas pessoas perguntam se essa coligação vai dar certo. Depende de quem assumir e de que forma vai administrar. Está na mão deles, da administração 2017 a 2020. Dando certo, não tem porque mudar. Dando errado, bom, aí a população mesmo vai querer e exigir uma mudança. A ideia da coligação não era de facilitar a vida de quem está administrando, muito pelo contrário, terá um trabalho maior ainda de convencimento de todos os lados.

 

O Florense: Qual o legado que o senhor deixa para o município?

Bernardi: Costumo dizer que, não sei se foi antes de assumir ou durante o mandato, mas que acabou a vida do político em administrar municípios. O cargo é de um gestor ou administrador. O político antigo definitivamente não tem mais chance de ser prefeito de qualquer que seja o município do país. Desde que foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que ganhou ênfase nos últimos anos, é preciso entender a legislação, caso contrário, não se consegue terminar o mandato com a ciência de que tudo foi executado dentro da lei. O político de carteirinha não tem mais chance. Outra coisa é saber dizer sim e não, e quando dizer. Não existe mais o meio termo, e se usava muito meios termos como ‘quem sabe’, ‘vamos ver’, ‘de repente’... O povo sabe disso. É preciso ter o discernimento de como dizer sim e não, é preciso ser claro, sim por isso, não por aquilo. Nesses oito anos como prefeito eu fui muito claro sobre isso. Mesmo que alguns tenham levado para outro lado quando eu disse não, mas pelo menos fui sincero, isso é importante. Meu legado é ter sido administrador e ter dito sim ou não na hora certa. Ah, e não ter incentivado a disseminação de segredinhos aqui dentro da prefeitura. Cada funcionário deve saber que suas ações são públicas, e se é público todos devem saber o que está acontecendo.

 

 

Itamar Bernardi, que ampliou a visão do que é administrar para as pessoas, avalia quais serão seus próximos passos após transmitir o cargo ontem. - Fabiano Provin/O Florense
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1 Comentários

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    Acho q minha avó Cândida c galiotto merecia muito um nome de rua.ELA FOI MÃE AVÓ. PARTEIRA TRAUMATOLOGISTA DE TODOS E MUITO MAIS.

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