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Especial Dia do Colono: Produzir em casa gera lucros

Município já tem quatro agroindústrias formalizadas e outras quatro em processo de registro

O suco, as geleias, o queijo, as massas e os pães caseiros já não são mais os mesmos. Com a qualificação, as agroindústrias familiares vêm se profissionalizando, adotando boas práticas de produção, investindo em embalagens mais atrativas e aperfeiçoando seus produtos para garantirem maior tempo de prateleira. E elas vêm crescendo e se espalhando pelo Rio Grande do Sul. Hoje, são 1.007 empresas formalizadas pelo Certificado de Inclusão no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), e outras 2.883 cadastradas na Secretaria do Desenvolvimento Rural (SDR).

Em Flores da Cunha, já são quatro agroindústrias formalizadas e outras quatro em processo de finalização e implantação. Elas estão nos ramos de vinhos e sucos de uvas, geleias e compotas, panificação e queijaria. Aliás, o município está dentro da região que mais concentra agroindústrias familiares do Estado. A Serra Gaúcha tem 160 estabelecimentos inclusos no Peaf, divididas em 49 municípios. E outras 205 estão em processo de formalização mostrando que a venda direta é um negócio vantajoso. “As famílias rurais estão vendo que há um mercado promissor nesse setor e que elas possuem plenas condições de desenvolver esse tipo de empreendimento. Somente neste ano já tivemos 11 agroindústrias inclusas no Programa e até o final do ano pretendemos incluir e formalizar mais 20 estabelecimentos”, explica o assistente técnico regional da Emater/Ascar-RS, Ricardo Capelli.

Profissionalização
Os próprios agricultores detêm os poderes para industrializar os seus produtos. Eles possuem a matéria-prima necessária e o conhecimento para fabricação. Esse último pode ser aprimorado e profissionalizado nos centros de treinamentos e junto a entidades.  O Centro de Formação de Agricultores de Fazenda Souza (Cefas), localizado em Caxias do Sul oferece cursos de vinificação, processamento de frutas, hortaliças e laticínios, boas práticas de fabricação, gestão de agroindústrias, entre outros. Entidades como Sebrae, Senar, Fetag e Fetraf oferecem apoio em cursos, além de oportunidades em feiras e exposições. “As oportunidades são inúmeras e aquelas pessoas que buscarem informações, conhecimento e aprendizado com certeza associarão ao seu conhecimento empírico e teremos um excelente resultado”, cita o assistente técnico.

De posse disso, ele não está sozinho na empreitada. Os governos Federal e Estadual possuem programas que auxiliam e incentivam os pequenos agricultores a estruturar sua propriedade. Em nível nacional, o Programa Nacional da Agroindústria Familiar, criado em 2003, apoia a inclusão dos agricultores familiares no processo de agroindustrialização e comercialização de sua produção, de modo a agregar valor, gerar renda e oportunidades de trabalho no meio rural. Podem participar agricultores familiares, pessoas físicas e jurídicas formadas por, no mínimo, 90% desses agricultores e com 70% da matéria-prima própria.

No Rio Grande do Sul existe a Política Estadual da Agroindústria Familiar, regulamentada em 2012, que possui linhas de créditos com juros mais baixos, oferece serviços para regularização sanitária e ambiental com a disponibilização de perfis de agroindústrias, oferece cursos de qualificação e abre novos espaços de comercialização local.

Incentivo para a renda familiar
Quando o florense Fábio Mascarello, 40 anos, decidiu voltar para casa e dedicar-se a agricultura depois de atuar como enólogo por cerca de sete anos em vinícolas da região, não imaginava em tão pouco tempo constituir seu próprio negócio. O regresso a propriedade da família localizada as margens da ERS-122, na localidade de São Roque, no Travessão Rondelli, aconteceu em 2003. “Foi uma decisão que tive que tomar, pois meu pai não conseguia sozinho cuidar dos seis hectares de parreiras”, conta. Além de auxiliar a família na agricultura, especialmente na produção de uva, o retorno de Fábio possibilitou também a criação da Vinícola Mascarello, e com isso toda a uva produzida na propriedade era transformada em vinho.

No entanto, depois de uma década comercializando o produto a granel, sentiu que poderia melhorar a renda familiar. Afinal, apenas produzir matéria-prima e vender a terceiros não agregava valor ao produto. Então, em 2015 surgiu a oportunidade de ampliar o negócio, e com o apoio do Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), a família montou uma agroindústria denominada Casa Venâncio, que produz anualmente cerca de 150 mil litros de vinho e 12 mil litros de suco por ano. “A oportunidade veio, tive que aproveitar”, frisa Mascarello, que conta com o apoio dos pais Vitalina Giotti e Jaime Mascarello, além da esposa Sonia Andreazza, para tocar o agronegócio. Os filhos do casal, Cristian, 12 anos, e Vanessa, de oito, por enquanto dedicam o tempo aos estudos.

Ao todo a empresa investiu aproximadamente R$ 250 mil, incluindo compra de equipamentos, a ampliação do espaço e reforma do prédio. No entanto, os investimentos não param por ali. Em breve, Fábio pretende aplicar mais R$ 50 mil na estrutura da empresa, melhorando o visual externo e a área destinada a comercialização dos produtos. Além do certificado do selo ‘Sabor Gaúcho’, a Casa Venâncio foi contemplada recentemente com a aprovação de um projeto por meio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), destinado a instalação de placas solares para produção de energia elétrica. Do total financiado de R$ 10 mil, o Feaper subsidia 80% do valor do investimento com recursos do Tesouro do Estado. De acordo com Mascarello, com a instalação de quatro placas é possível produzir entre 180kW a 200kW (quilowatts/mês), gerando uma economia de 50% na conta de luz.

O primeiro projeto de energia alternativa de Flores da Cunha teve acompanhamento de técnicos do escritório da Emater/Ascar do município e aprovação do Conselho Municipal da Agricultura. Para o enólogo, a formalização da agroindústria familiar é um grande negócio para quem pretende se manter no campo. No futuro, Fábio pretende ampliar o negócio agregando outros produtos, como artesanato e produtos coloniais.

Produção anual do enólogo Fábio Mascarello é de 162 mil litros, entre sucos e vinhos. - Antonio Coloda
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