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Condições climáticas antecipam a colheita da uva na Serra

Inverno mais curto e excesso de chuva no último quadrimestre do ano passado foram responsáveis pela aceleração de 10 a 15 dias no processo de maturação. Variedades brancas são as primeiras a serem retiradas das videiras

Na propriedade do agricultor Moacir Menegat, 59 anos, a safra de uva 2015 já começou a ser colhida. Os 5 hectares de vinhedos distribuídos nas variedades Cabernet Sauvignon, Isabel e Niágara Branca e Rosada ficam na sede do município de Nova Pádua. Nessa semana a família Menegat colheu cerca de 3 mil quilos de Niagara, toda encaixotada para a venda in natura no Estado de São Paulo.

O pontapé inicial do produtor na primeira semana de janeiro é a realidade da safra 2015 no Rio Grande do Sul. Uma colheita antecipada entre 10 e 15 dias em função do inverno mais curto e dos índices de chuvas registrados nos últimos meses do ano, influenciando fases importantes da videira como a floração. Com os trabalhos iniciados, a expectativa é de maior qualidade nas uvas precoces e condições menos favoráveis nas variedades tardias. A produção em solo gaúcho deve se manter na média dos últimos anos – de 600 milhões a 700 milhões de quilos.

Para o chefe do escritório da Emater-RS de Nova Pádua, Leonildo Sperotto, a antecipação teve a interferência direta da incidência de chuvas, principalmente em setembro, mês em que foram registrados 253 milímetros no município. “É um período crucial para a uva, pois inicia a época da florada e as chuvas acabaram interferindo nesta etapa. Além disso, o tempo instável fez com que os tratamentos utilizados nas plantas fossem ‘lavados’. Resultado: mais trabalho para o produtor e aumento na incidência de doenças”, lista Sperotto.

Os cuidados extras para evitar o ataque de fungos como do míldio (popular ‘mufa’) foram essenciais na preparação da safra deste ano, porém, resultaram em prejuízos, como aconteceu na propriedade de Menegat, que estima colher, em função da doença, cerca de 10% a menos na variedade Isabel. “Foi muita chuva na floração, além de algumas perdas nos temporais. Variedades como a Niágara estão com ótima qualidade e bonitas, mas as mais tardias como a Isabel apresentam uvas e cachos mais desparelhos na planta”, cita o produtor.

De acordo com o coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, os ataques das doenças foram contornados na maioria das propriedades, resultando em uvas com bom aspecto e sanidade, além de aroma e paladar. “As parreiras e as uvas estão saudáveis, tudo colabora para uma uva de boa qualidade e, com isso, excelentes espumantes, vinhos, sucos e derivados”, prevê, além de lembrar que o custo de produção da uva aumentou em função do maior uso de tratamentos. “Tivemos alguns fatores que contribuíram nessas famílias que registraram perdas, como o desconhecimento das doenças, a aplicação de produtos novos e não tão eficientes e o pH da água (potencial hidrogeniônico), resultado de tanta chuva”, complementa o técnico Sperotto.

Os cuidados mantidos até agora devem continuar durante a safra. Schiavenin alerta para o adoecimento das videiras em função de fungos que atacam a maturação dos frutos, ocasionando o dano da produção em estágio final. “Com esses cuidados e, claro, com um clima com dias de sol e calor, chuvas, além de noites com temperaturas mais amenas, esperamos qualidade nas uvas desta safra. Já a quantidade ainda é difícil de estimar, muito em função das mudanças em áreas plantadas da qual registramos nos últimos anos. Não temos nenhum fenômeno que venha a contribuir para uma pequena ou supersafra”, estima Schiavenin.

Foto/Camila Baggio

Produtor Moacir Menegat, de Nova Pádua.


Expectativa também de preços melhores

Dos 3 mil quilos de Niágara já colhidos pela família do produtor Moacir Menegat ainda restam cerca de 6 mil quilos da variedade, além das outras uvas, resultando em uma safra de, em média, 65 mil quilos. Depois das uvas de mesa, a safra é toda vendida para a produção de vinhos e sucos, assim como a maioria dos cerca de 30 milhões de quilos de uva produzidos em Nova Pádua no mesmo período do ano passado. Com tanto trabalho, os produtores esperam um resultado melhor, contando com o aumento do preço mínimo da uva, definido para 2015 em R$ 0,70/quilo.

“Tivemos um bom reajuste neste ano, o mercado está bem comprador e existe a procura na indústria. O agricultor precisa negociar bem a fruta e o vinho e qualquer dúvida deve procurar o STR. Cuidados com a colheita, transporte, medição do grau, notas no Talão de Produtor, tudo deve ser mantido até o final da colheita”, recomenda Schiavenin. O preço mínimo foi homologado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e divulgado no Diário Oficial da União.

Nos últimos 10 anos – de 2004 a 2014 –, o Rio Grande do Sul aumentou em 4,3% a produção de uvas. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em 2004 foram 579 milhões de quilos. Na safra de 2014 o total colhido pelos produtores foi de 604 milhões de quilos (somando as variedades viníferas e americanas). Desses, 30 milhões foram produzidos em Nova Pádua e 88 milhões de quilos em Flores da Cunha.


Moacir Menegat ressalta a qualidade de algumas variedades, porém, diz que teve algumas perdas devido ao excesso de chuva. - Camila Baggio
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