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Adeus a Raymundo Paviani

Flores da Cunha se despede de ex-prefeito

“Fiz minha parte, o senhor vos ensine a fazer a vossa”, disse São Francisco de Assis dias antes de morrer. Seguidor e membro dos ensinamentos da Ordem Franciscana Secular, o ex-prefeito Raymundo Paviani aprendeu a fazer a sua parte. Eleito prefeito de Flores da Cunha em três oportunidades e vereador em outras três, Raymundo Paviani foi uma das figuras mais importantes da história política e social do Município. O ex-prefeito e ex-vereador faleceu na última sexta-feira, dia 19, aos 90 anos por falência múltipla orgânica. O velório aconteceu na capela do Centro Administrativo de Flores da Cunha e o sepultamento no Cemitério Municipal. Autoridades municipais, familiares, amigos e comunidade em geral se despediram do projetista e construtor aposentado. O bispo Dom Paulo Moretto, a Ordem Franciscana Secular e a banda Santa Cecília também prestaram a sua homenagem.
Durante a missa, o prefeito Ernani Heberle, o presidente da Câmara de Vereadores, Moacir Ascari, e a presidente do Centro Empresarial, Eroni Koppe, destacaram a importância de sua trajetória em Flores da Cunha e Nova Pádua. “Ele foi um exemplo a ser seguido por muitos prefeitos que o sucederam, prova disso é a presença de todos os ex-prefeitos aqui hoje”, destacou Ernani.

Homenagens
Pela trajetória política e devido as diferentes funções que exerceu, foi homenageado por diversas vezes. Em 1975 recebeu o título de “Comendador” do Governo Italiano, atribuído pelo presidente Giovanni Leone e pelo primeiro ministro Aldo Moro. No ano de 1999, recebeu o título de Cidadão Benemérito de Flores da Cunha concedido pelo Poder Legislativo. Já em 2009, a Câmara de Vereadores aprovou o Projeto de Lei que denominou a sede do poder de Casa Legislativa Raymundo Paviani e em março deste ano recebeu o título de Cidadão Emérito de Nova Pádua do legislativo paduense. Além dos feitos políticos, Raymundo Paviani foi um dos idealizadores e fundadores do Hospital Nossa Senhora de Fátima, membro da Ordem Franciscana Secular (OFS), ministro da eucaristia e fundador da Fraternidade Santa Clara da OFS. Pela memória invejável, Raymundo também serviu de fonte para inúmeros trabalhos, reportagens e livros.

Os 25 anos dedicados as atividades políticas foram retratados por ele mesmo no livro De pedreiro a prefeito. Publicado em 2003, o livro conta as histórias e realizações do seu primeiro mandato como vereador e prefeito. Um segundo livro, que retrata os feitos do segundo mandato como prefeito, também foi escrito por ele e atualmente aguarda por publicação. Raymundo Paviani era casado desde 1939 com Esmerilda Ferrarini Paviani. Juntos tiveram 12 filhos (Jayme, Olídio (falecido), Zelinda, Olídio Antônio, Nestor (falecido), Isaura, Geni, Nair Libera, Nestor José, Luiz Alberto, Aldo José e Carlos Raimundo), 21 netos e nove bisnetos.


Três vezes prefeito, três vezes vereador
Nascido em 28 de maio de 1920, no Travessão Mützel, em Nova Pádua, Raymundo Paviani começou cedo a trabalhar. Aos sete anos já ajudava em uma olaria, profissão exercida pelo pai Primo Francesco Paviani. Com nove anos iniciou os estudos na Escola do Travessão Mützel. Aos 19 anos passou a trabalhar como pedreiro. No ano de 1950, fez curso na área de projetos e construção civil e obteve a licença do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) para atuar como projetista e construtor. Exerceu atividades administrativas em empresas públicas e privadas e trabalhou na construção das torres de Mato Perso, Travessão Carvalho, São Cristóvão e Travessão Rondelli e nas ingrejas da Linha 80, capelas São Paulo e Sete de Setembro, além da capela do cemitério de Nova Pádua.

Foi nessa mesma época que a política começou a fazer parte da vida de Paviani. Filiado ao PRP, em 1947 ele foi eleito para o primeiro mandato como vereador. Foi justamente a experiência como vereador, tendo sido presidente da Câmara de Vereadores, e a oportunidade de ter assumido por quinze dias o comando do Executivo florense, em 1949, que levaram o PRP a credenciar o nome de Raymundo Paviani para ser o candidato a prefeito na eleição de 1951. Apesar da dificuldade em expressar-se publicamente, reveladas por ele próprio no livro De pedreiro a prefeito, Paviani aceitou o desafio. “Para ganhar a Prefeitura bastava multiplicar minha votação como vereador, por quatro. Relutei tanto quanto me foi possível. Mas, vencidas todas as minhas justificativas concordei em colocar o meu nome à votação”, escreveu.

Mas, aquelas eleições, com três candidatos concorrendo não foram fáceis. Um imprevisto ocorrera durante o pleito. Um voto em separado, colocado irregularmente numa urna de Nova Pádua (não se sabe se de propósito ou por equívoco) provocou a anulação daquela seção eleitoral. O assunto chegou até o Supremo que decidiu fazer nova eleição, devendo votar novamente os eleitores que haviam assinado a folha de comparecimento em 1º de novembro de 1951 naquela referida seção. Até então, Raymundo perdia por 30 votos. Por fim, os votos dos paduenses garantiram vantagem suficiente para que Paviani revertesse o resultado e vencesse a eleição com uma pequena vantagem, colocando o PRP em seu segundo mandato consecutivo.

Entre os destaques de seu primeiro mandato, estão a aquisição do terreno para a construção do estádio municipal, a implantação da iluminação pública e da subestação de enologia em Flores da Cunha (que durou até 1974 e depois foi transformado no Camping Municipal). Paviani disputou também as duas próximas eleições (1955 e 1959) elegendo-se novamente vereador. Depois concorrera mais duas vezes a prefeito, elegendo-se em ambas para governar o município de 1964 a 1969 e de 1973 a 1977. O segundo mandato no cargo de prefeito foi prolongado em pouco mais de um ano, durante o Golpe de 1964, possibilitando assim completar 25 anos de mandatos eletivos no Município. Como prefeito realizou obras importantes para Flores da Cunha como: a construção de mais de 20 campos de futebol, a eletrificação rural em 75% das residências, a construção de 21 escolas municipais em alvenaria, a instalação da primeira central telefônica, a instalação do Belvedere Sonda em Nova Pádua, a disponibilização de áreas para construção do Esporte

Clube São Luiz, da CEEE, da Banda Florentina, a liberação e execução da primeira etapa do esgoto na área central, e a criação do Camping da Vindima, da Vindima da Canção (1975) e da Festa da Vindima (1967).

Nas páginas de seu livro, Raymundo escreveu que, enquanto gestor público, conseguiu realizar sonhos que trazia desde criança: o de garantir energia elétrica, boas estradas e condições de saúde. “A concretização do meu sonho de eletrificação rural de muitas famílias aconteceu também com referência ao Hospital Nossa Senhora de Fátima, obra que considerava importantíssima para a comunidade e que começou a ser idealizada a partir do segundo ano da minha primeira atuação no Executivo, mas que somente mais tarde foi concretizada”, contou.
Paviani atuou por 25 anos na vida política de Flores da Cunha, sendo 13 anos como prefeito e 12 anos como vereador em seis mandatos eletivos.

Depoimentos
“Teve uma destacada atuação na vida política e administrativa de Flores da Cunha, especialmente porque desempenhou mandatos consecutivos no Legislativo e no Executivo Municipal, sempre com muita austeridade, honestidade e probidade. Merece registro especial o fato de que, ao ingressar e permanecer na vida pública por um longo período, como Vereador ou Prefeito, ele fez uma verdadeira opção pelas causas comunitárias, uma vez que naquela época as pessoas que participavam da vida pública faziam-no por uma opção pessoal, já que a remuneração para vereadores ou prefeito eram pouco significativas. Assim, esse fato enobrece ainda mais a sua destacada e exemplar vida pública. É um exemplo para todos nós”.
Ernani Heberle (PDT) - Prefeito de Flores da Cunha

“O Prefeito Raimundo, foi especial em todos os seus atos. Sempre conduziu seus trabalhos voltados para o bem do cidadão. Nova Pádua se orgulha de tê-lo com filho desta terra, pois suas obras como político, e administrador, são reconhecidas por todos aqueles que o conheceram e conviveram”.
Itamar Bernardi (PMDB) – Prefeito de Nova Pádua

“Foi um homem simples, de caráter forte e determinado. Político de trajetória histórica no município de Flores da Cunha, sua atuação como vereador por três legislaturas e prefeito por três mandatos deixou exemplo de honestidade, de dedicação à coletividade e de caráter e princípios éticos que devem ser seguidos por todas as pessoas que pretendem ocupar um cargo público. A Câmara Municipal de Flores da Cunha – Casa Legislativa Raymundo Paviani – tem orgulho em ter em sua história pessoa de tamanha grandeza”.
Moacir Ascari (PMDB) - Presidente da Câmara de Vereadores de Flores da Cunha

“Ele foi uma pessoa muito importante e nos deixou um bom exemplo de trabalho, honestidade e dignidade. Se todos seguissem o seu exemplo, o mundo seria bem melhor. A Câmara de Nova Pádua se orgulha do senhor Raymundo Paviani ter nascido em Nova Pádua e o homenageamos com o título de Cidadão Emérito e também convidamos para que relatasse a sua história. Se por um lado sentimos muito que ele tenha partido, por outro sabemos que ele deixou um legado e cumpriu a sua missão”.
Silvino Maróstica (PSDB) - Presidente da Câmara de Vereadores de Nova Pádua

“Realizou um trabalho exemplar, de participação e de honestidade. Sempre atuante, buscou pela inovação do Município em sua época de governante e sempre teve uma visão de futuro para moldar Flores da Cunha. Foi um pioneiro e merece ser lembrado e homenageado”.
Ricardo Molardi – Presidente do PSB

“Pessoa simples, mas de personalidade marcante dentro do Partido Progressista e que fez história no meio político de Flores da Cunha. Desempenhou na vida política um trabalho de perseverança que merece todo o nosso reconhecimento. Com certeza a história de vida do senhor Raimundo é um exemplo a ser seguido, pois suas ações ao longo dos seus 90 anos falam por si só. Uma pessoa ímpar em nossa comunidade que soube desprender-se de interesses pessoais em prol do bem comum, praticando sempre a boa política, buscando construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, com dignidade a todos os munícipes”.
Daniel Gavazzoni – Presidente do PP

“Foi uma pessoa iluminada como administrador público, sério, econômico, competente e ético. Enquanto prefeito por dois mandatos pedi conselhos sobre a administração e ele me concedeu com alegria e espontaneidade. Ficará para sempre na lembrança e história de Flores da Cunha”.
Heleno Oliboni – Ex-prefeito e presidente do PDT

“Foi um exemplo de integridade e capacidade de liderança na sociedade florense. Sua participação foi fundamental na política de nosso município. Flores da Cunha perde um grande cidadão, sempre comprometido em buscar o melhor para todos. Pessoa generosa, simples e de muito respeito que com certeza fará uma grande falta entre nós”.
Élio Dal Bó – Presidente do PMDB

“Ele dedicou a sua vida em prol do Hospital Fátima. Foi um homem de espírito empreendedor, solidário e sensível para perceber a necessidade da comunidade ter um hospital. Tenho venereação e me espelhei nele pela dedicação que teve com a comunidade”.
Dolores Soldatelli – Presidente do Hospital Nossa Senhora de Fátima


Em maio de 1999, Raymundo Paviani recebeu o título de ‘Cidadão Benemérito’ da Câmara florense.
 
 

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