Economia

Ano da gestão eficiente e da criatividade

Os caminhos para a retomada do crescimento econômico no Brasil passam por oportunidades em um cenário desafiador em 2017, sem grandes fórmulas, mas com muito trabalho

Uma conjuntura árdua, consequência de uma série de ações que marcaram a condução da política econômica do Brasil, e que carrega para a vida dos brasileiros a inflação, a restrição de crédito, as dúvidas e incertezas de qual será o rumo de uma crise que tem como raiz a credibilidade. Diante deste cenário, a pergunta que ecoa entre os diversos setores econômicos é como servir-se do grau de confiança mais baixo da história como uma oportunidade de negócio, vislumbrando uma retomada econômica e a famosa luz no fim do túnel? As expectativas de recuperação da economia brasileira têm melhorado, embora 2017 prometa ser mais de retomada do que propriamente de crescimento.

Para o economista Rodrigo Eduardo Bampi, professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o Brasil enfrenta hoje um cenário resultante de uma série de desacertos na condução da política econômica. “Entre esses equívocos, podemos destacar o desajuste das finanças públicas, a leniência no combate à inflação, a maior intervenção do Estado por meio de linhas de crédito subsidiado, o controle de preços de energia elétrica e da gasolina, e a constante e pesada atuação no mercado de câmbio. Pouco a pouco, este modelo se mostrou insustentável”, avalia Bampi, que ministra aulas para o curso de Economia.

Ainda que o cenário econômico nacional para este ano permaneça desafiador em diversos aspectos, Bampi aposta em oportunidades que despontam com uma retomada. Entre elas o câmbio. “Pouco a pouco a economia começa a dar sinais de melhora. Será uma retomada longa e gradual, é verdade, mas é a partir desta recuperação econômica que novas oportunidades passam a aparecer. Para o momento, a grande oportunidade, na minha visão, é o novo patamar do câmbio. Num período recente, a sobrevalorização do real acabava por dificultar as exportações das empresas brasileiras e incentivar a importação de produtos para consumo no mercado local. A consolidação do dólar a um patamar de R$ 3,20 a R$ 3,50 abre espaço para as empresas brasileiras tornarem-se mais competitivas no mercado internacional, bem como incentiva a substituição de produtos importados por produtos nacionais”, indica o economista.

Resumindo: a expectativa para 2017 é que, gradualmente, a economia se recupere, tanto dentro das empresas como fora delas. “Sob o enfoque macroeconômico, já temos visto alguns sinais positivos. A inflação já vem reduzindo e dá sinais de que irá convergir para um patamar aceitável. Com isso, o Banco Central passa a ter condições para reduzir a taxa Selic, e com juros menores a economia tem condições de uma retomada mais robusta. Além disso, o atual governo já tem dado sinais claros de que irá atuar para reduzir o déficit fiscal e tentar manter as finanças públicas sob controle, o que é importante para a retomada da confiança e credibilidade na economia”, pondera Bampi.

Consolidada e fundamental

Responsável por quase 14% da participação na economia de Flores da Cunha, a agricultura é o segundo principal setor local e também um dos que sugere que a economia do Rio Grande do Sul terá desempenho relativamente favorável em 2017, de acordo com dados apresentados pela Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS). Esse prognóstico, no entanto, é contingente a dois fatores principais: condições climáticas favoráveis – ameaçadas pela formação, mesmo que em intensidade moderada, do fenômeno La Niña –, e recuperação do investimento agregado nacional, cujo efeito sobre a indústria gaúcha seria potencializado pela sua relativa especialização local na produção de bens de capital, com destaque para aqueles destinados ao setor agropecuário.

Para o professor Bampi, o agronegócio é um dos setores com destaque em âmbito nacional para 2017. “Em um período recente, o agronegócio tem se destacado por apresentar um crescimento interessante mesmo no contexto econômico atual. Mas com a melhora gradual da economia, outros segmentos terão sua retomada pouco a pouco. Lógico que setores de bens de consumo acabam retomando mais rapidamente, enquanto que setores de bens duráveis acabam demorando um pouco mais”, acrescenta.

Em solo florense, a cultura de destaque é, sem dúvida, a vitivinicultura, com mais de 4,9 mil hectares de área plantada, mas que também é levada pela maré de preocupação com a economia e o mercado que inclui os vinhos, sucos de uva e espumantes. “O setor vitícola esteve otimista com o início de 2016, quando esteve em alta no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Mas, a partir do segundo trimestre, com a persistência da crise econômica, elevação dos impostos sobre produtos industrializados (IPI) e o reajuste nos preços, acabou se elevando o pessimismo do setor quanto ao desempenho de 2016. Segundo dados de comercialização do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vendas tiveram queda expressiva a partir de julho e uma percepção que não irá mudar com o final do ano, onde também leva-se em conta a diminuição da renda do brasileiro”, reconhece o coordenador da Câmara Setorial de Vinhos do Centro Empresarial (CE) de Flores da Cunha, Jeronimo Mioranza.

A baixa na comercialização, de acordo com Mioranza, é resultado da queda considerável na safra 2015-2016 – resultado de eventos climáticos negativos, onde as indústrias do setor tiveram um aumento considerável no custo da matéria-prima, a uva, com incremento também nos insumos e impostos. “Isso tudo se reverteu em um aumento do produto de até 50% ao consumidor final, o que pressiona a venda para baixo”, lamenta. Para 2017, o setor vitícola nutre novo otimismo, alimentado por um trabalho de divulgação dos benefícios das bebidas derivadas da uva, com o objetivo de aumentar o consumo per capita.  “Espera-se que para o próximo ano a economia reaja, tendo uma equalização da produção com os custos e a qualidade da safra. Com isso o mercado tende a reverter e começar a prosperar”, pondera Mioranza.

Foto: Antonio Coloda/Arquivo O Florense

Eficiência produtiva na indústria

Dona da maior participação econômica de Flores da Cunha (mais de 60%), a indústria, assim como o setor agropecuário e seus riscos inerentes, tem especificidades produtivas que podem afetar o desempenho da economia gaúcha no próximo ano, segundo estimativa da Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS). O setor industrial, por exemplo, possui características bem peculiares. Destaca-se, na divisão pela categoria econômica dos bens industrializados, a relevância local da indústria de bens de capital, apontada por estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Bradesco como a segunda maior do Brasil, atrás apenas de São Paulo.

Para o coordenador da Câmara Setorial de Metalurgia do Centro Empresarial (CE) de Flores da Cunha, Miguel Mazzocco, como a maioria das fábricas brasileiras, as indústrias florenses também sentiram os fortes impactos da crise econômica nacional. “O ano de 2015 fechou em queda considerável e em 2016 sentimos uma pequena melhora em alguns setores isolados. As indústrias do setor buscaram enxugar seus custos, melhorar a eficiência produtiva, analisar e reduzir desperdícios, ou seja, buscaram fazer o tema de casa para manterem-se no mercado. Muitas estão buscando o caminho da inovação e da diversificação como forma de retomar o crescimento, porém, as questões políticas que envolvem as indefinições no rumo econômicas do país somadas às denúncias de corrupção em quase todo alto escalão do governo, aparecem como os fatores que mais emperram a retomada do crescimento”, avalia Mazzocco.

Para o empresário, o fortalecimento industrial depende de ações conjuntas entre setores privado e público. “Falar de uma indústria forte é falar de uma indústria competitiva, tanto no mercado interno quanto no externo, e competitividade, por sua vez, repousa em produtividade, que depende de investimentos e políticas governamentais bem implementadas. O governo falhou sistematicamente nos últimos anos em relação a uma política industrial sólida. Não foi feita a reforma trabalhista, tampouco a reforma tributária, nem a social. No entanto, não podemos ficar pelo caminho se lamentando e esperando que o governo mude isso de uma hora para outra, precisamos retomar a economia impulsionados pelo desejo de crescer e inovar”, acredita Mazzocco. No comparativo com 2015, Flores da Cunha reduziu o número de indústrias – de 452 para 433 em 2016.

 

Comércio está contido

Assim como a indústria, a agricultura e o poder público, o comércio e os serviços sentem os reflexos de consumidores mais contidos na hora de fazer as compras. Juntos, comércio e serviços somam 26% de participação na economia de Flores da Cunha e, para uma aceleração mais robusta neste setor, é preciso atingir o consumo das famílias. Para que isso aconteça, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Flores, Márcio Dotti Rech, aposta na necessidade de uma reestruturação, inclusive de governo. “Sem sombra de dúvida precisamos de uma reforma geral e urgente em vários setores, é preciso um esforço do governo para colocar a economia novamente nos rumos do crescimento e, mais, é preciso que todos, entidades, sindicatos e população em geral entendam que algumas ações drásticas devem ser tomadas. Todos os índices econômicos e financeiros, juros altos, inflação, desemprego, milhares de estabelecimentos comerciais fechando as portas em todo país demonstram a real condição econômica, fruto de uma administração catastrófica desempenhada ao longo destes últimos anos”, aponta Rech.

O comércio em Flores da Cunha tem destaque no setor de alimentação e bebidas, com 232 estabelecimentos, seguido pelo automotivo – 65 negócios e, em terceiro, a construção, decoração e elétricos, com 78 empresas. Em comparação com 2015, no ano de 2016 Flores teve um aumento no número de estabelecimentos comerciais – de 567 para 584. “O certo é que o comerciante e o prestador de serviço precisam continuar lutando com garra e, juntos, pressionar a quem toma as decisões para que, de uma vez por todas, as tome como verdadeiros gestores, que façam os ajustes e reformas necessárias, pois o Brasil tem um enorme potencial de crescimento em todas as áreas, só precisamos de organização”, opina o líder da CDL.

Otimismo do setor vitivinícola deve ser alimentado com um trabalho de divulgação dos benefícios das bebidas derivadas da uva. - Maiquel Vignatti/Divulgação
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1 Comentários

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    Boa tarde! Para um cidadão que está em fase de mudança do estado de funcionário da iniciativa privada para a coordenação de uma empresa, deixo minha opinião sobre a recessão econômica em nosso país. A recessão não está em nosso encalço a poucos anos, fazem muitos anos que as dificuldades tanto para gestores quanto para empreendedores, investidores e a classe trabalhadora batem as portas. Olhando estatísticas, muitas empresas fecham antes de dois anos de abertura, o índice de estudantes universitários está sempre caindo, a média de evolução nas escolas está cada vez menor, investimentos em setores cruciais de nossa economia vem diminuindo com o passar dos anos. se analisarmos o tamanho do nosso país, as diversidades de culturas que poderiam ser obtidas. As falhas na minha opinião, vem de todos os setores. O governo poderia incentivar as culturas nativas de cada região em parceria com as universidades, os investidores deveriam dar mais atenção aos estudos de desenvolvimento socioeconômico das regiões onde querem investir, os gestores poderiam dar mais incentivos a classe trabalhadora para ter um nível de qualificação padrão na mão-de-obra e não disputa-los, muitas vezes promessas deturpadas por ilusões momentâneas, os próprios trabalhadores investirem mais em qualificações e desenvolvimento afim de termos um nivelamento na qualidade operária. RESUMINDO MINHA OPINIÃO, TODOS TEM PARTICIPAÇÃO NESTA RECESSÃO QUE NOSSO PAÍS ESTÁ, POIS A RESPONSABILIDADE É NOSSA!

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